Gog e Radiohead

24, janeiro, 2008 by

O que tem esses dois artistas em comum?

Depois do marco histórico em 2007 com a disponibilização do cd In the Rainbows do Radiohead no estilo “pague quanto quiser”, agora é a vez do GOG. O rapper Genival Oliveira Gonçalves – GOG, um dos rappers mais respeitados no cenário nacional lança seu cd no mesmo estilo, com a diferença de ao invés de deixar implícito o protesto contra as gravadoras deixou o seguinte protesto no site:

Saudações Revolucionárias!

O CD Ao Vivo do DVD ‘Cartão Postal Bomba!’ chega com um grande desafio: – Apresentar uma nova proposta de distrbuição de cd´s, dvd´s, vinis, roupas, livros, enfim, tudo que produzimos no Hip Hop brasileiro. Nacionalmente essa distribuição praticamente não existe. Para aumentar mais o problema, na maioria dos lugares em que ela chega, nossos fãs acabam sendo maltratados e vítimas de todo tipo de preconceito ao fazer suas compras.

Hoje é assim: Os artistas criam! As gravadores revendem pelo preço que querem! O consumidor paga caro! Os artistas querem acesso! As gravadoras criam barreiras! O consumidor sofre! Os artistas trabalham! As gravadoras lucram! O consumidor segue insatisfeito.

Basta: Temos que dizer não a um mercado fonográfico que escraviza! Acabar com esse intermediário!

Agora será: Nós por nós! Nós artistas criaremos e cuidaremos! O consumidor pagará o preço justo! Nós artistas seremos parceiros! O consumidor terá comodidade. Nós artistas colheremos o fruto do nosso trabalho! O consumidor seguirá satisfeito! A partir daí o cenário será diferente a começar pelo relacionamento entre o artista e seu público

Não podemos negar que as coisas estão mudando nas indústrias fonográficas, e devem mudar, o acesso à música assim como a toda forma de informação deve ser livre, sem restrições – atualmente temos de pagar para ter acesso a cultura. Reclamam da cultura popular brasileira atual que ouve funk e axé de última qualidade, mas elitizam músicas boas somente para defender os direitos autorais. A educação caminha da mesma maneira, vide o caso de proibirem cópias de livros nas faculdades. Oras, só quem tem dinheiro terá direito a informação nesse país? Que mais cd’s venham dessa maneira assim como muitos outras bandas independentes que já disponibilizam seus trabalhos gratuitamente pela grande rede.

Sayag Jazz Machine

17, janeiro, 2008 by
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Capa do álbum No me Digas

Jazz com batidas eletrônicas de drum’n’bass até samplers experimentais. Instrumentos como saxofone, flauta transversal, clarinete e fagote são constantes nas músicas do Sayag Jazz Machine. Algumas também com uma pitada de rap, tanto em inglês quanto na língua nativa do grupo em francês, aliás o multiculturalismo é marcante como pode ser visto pelo nome do álbum em espanhol e também algumas faixas do álbum No me digas. Essa mistura faz com que o som fique ao mesmo tempo alegre e melancólico, são impressões pessoais obviamente, mas mostra o efeito da música em todos nós.

Apesar da mistura não muito comum o som ficou bem balanceado e não muito extravagante. Uma característica do grupo é a definitiva junção entre vídeo e música, e não, não é mais um canal de televisão que eles estão lançando, é a junção entre a figura do video-jockey e os instrumentistas.

Como pode ser visto pelo elenco de componentes disponibilizado no site, vídeo e iluminação fazem parte literalmente do som:

Charly AMADOU SY : DJ
Pierre-Yves LE JEUNE : Acordeon / Contrabaixo / Violoncelo
Nicolas SCHEID : Saxofones / Flauta / Clarinete
Christophe VERMAND : Programação / Teclados
Laurent MEUNIER : Vídeo
Martin ROSSI : Iluminação

Alguns vídeos:
Anachromic Tour – 2005

Ao vivo em Batoufar – 2000

Discografia
Site Oficial
MySpace

Cidade do Samba – Parte II

4, janeiro, 2008 by

Dando prosseguimento a análise do DVD Cidade do Samba:

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Dona Ivone Lara e Nilze Carvalho {Acreditar} – A letra é meio desanimadora, não combina com o samba, mas mais uma vez o encontro de gerações, esse específico entre uma sambista da década de 40 e a bandolinista virtuose que começou a tocar com 5 anos de idade. A composição da própria Ivone Lara, faz-nos lembrar a grande carreira dessa compositora, que já teve músicas interpretadas por Gilberto Gil, Maria Betânia, Caetano Veloso e Gal Costa. Nilze Carvalho é atualmente um dos grandes nomes do seu instrumento ao lado de Hamilton de Holanda.

Ivan Lins e Mariana Aydar {Desesperar Jamais} – O compositor consagrado por canções cantadas por Elis Regina e Emílio Santiago canta um clássico do samba. Suas influências de jazz e bossa-nova são claras na forma de cantar. Já Mariana Aydar é considerada uma das novas cantoras do MPB brasileiro, descoberta em Paris por Seu Jorge, vem ganhando espaço no Brasil.

João Bosco e Daniela Mercury {De frente pro crime} – Daniela Mercury que se consagrou pelo estilo axé e samba-reggae juta-se a um grande nome da MPB, o mineiro João Bosco, que é considerado um violonista virtuose. Um Duo no mínimo histórico, a qualidade vocal dos dois é tamanha que só o gingado (swing) da interpretação faz o samba, a percussão aqui ficou em terceiro plano, já que as vozes foram atração e principal e o duo violão e gaita fez uma harmonia bem sincronizada.

Almir Guineto e Dorina {Mel na boca} – O principal e mais antigo representante do pagode, fundador do Fundo de Quintal, vem cantando ao lado de Dorina, uma representante autêntica da alegria nesse meio musical. Um samba-pagode como não deveria deixar de ser ficou bem ajustado nas vozes “bêbada” de Guineto e “tentativa de lírico” de Dorina, não que as características que citei sejam ruins, na realidade muito pelo contrário, a forma de definição do timbre dos dois é difícil por isso as analogias.

Alcione e Elton Medeiros {Pressentimento} – O parceiro de Cartola em composições, Elton Medeiros também compositor dessa música é uma lenda no samba, ao lado de Alcione, a maranhense que canta desde os 12 anos. Um samba-choro com destaque para o arranjo baseado nos “power trio” do choro: violão 7 cordas, flauta transversal e pandeiro.

Erasmo Carlos e Nando Reis {De noite na cama} – Não consigo definir o Tremendão como MPB, mas como todo mundo o conhece prefiro ficar sem definir o seu estilo. Já o “rockeiro” Nando Reis ex-baixista do Titãs, é um dos compositores contemporâneo mais consagrados. O samba-rock aqui arranjado em cima da música de Caetano Veloso, caiu bem para os dois. Bom arranjo, bons cantores, conseqüentemente boa música.

Luiz Melodia e Seu Jorge {Diz que fui por aí} – Alguém com apelido Melodia, deve ser respeitado, como muitos da nossa MPB, tem muito reconhecimento na Europa, principalmente na França. Seu Jorge foi descoberto pelo clarinetista Paulo Moura (vale a ênfase no clarinete, não porque toco, mas sim porque toco rs), vale lembrar a título de curiosidade que é primo do Dudu Nobre. Esses dois cantores dispensam comentários independente da música que estiverem cantando. Bom duo!

Nelson Sargento e Teresa Cristina {Agoniza mas não morre} – Um dos melhores sambas de todos os tempos, assim podemos definir a música de Nelson Sargento, o também pintor canta esse samba-enredo ao lado Teresa Cristina, uma das responsáveis pela revitalização do ritmo em voga. Destaque mais uma vez para o arranjo bem feito, afinal de contas não é a toa que esse é um dos melhores sambas de todos os tempos!

Walter Alfaiate e Negra Li {Jura} – Jura é uma das músicas mais antigas do samba e ela prova que o choro é somente uma derivação. Hoje em dia, provavelmente classificaríamos esse samba como um choro, na realidade em alguns “songbooks” ela já é assim caracterizada. A cantora de rap que canta gospel (no sentido musical da palavra) tem um contralto e timbre próprios que a deixaram como uma verdadeira cantora de samba. Walter Alfaiate um dos compositores mais aclamados pelos sambistas, não tem a mesma sorte com gravadoras, tem infelizmente só um disco, mas isso não significa que sua voz e interpretação são ruins, muito pelo contrário. Alfaiate e Negra Li foi mais um encontro de duas gerações que marcaram esse DVD.

Arlindo Cruz e Sandra de Sá {Casal sem vergonha} – O substituto de Jorge Aragão no Fundo de Quintal não fez por menos ao lado de Sandra de Sá, a cantora de um MPB sambado. Se houvesse um prêmio dentre essas músicas para melhor interpretação com certeza iria para eles, uma característica desse ao vivo foi a liberdade que deram para que os duos conversassem, e ninguém pode negar que quanto a interpretação os dois conseguiram botar a alma na música. Dois grandes nomes reunidos resultou em algo que não se pode deixar de ouvir.

Jair Rodrigues e Cláudia Leite {Deixa isso pra lá} – Seguindo a idéia da premiação esse duo com certeza ganharia o prêmio de empolgação. A cantora de axé, que tem sua técnica vocal criticada por forçar muito a garganta, fez um belo trabalho mostrando que sua voz não é “forçada” mas muito bem trabalhada e característica. Jair Rodrigues é um dos grandes cantores brasileiros que dispensam qualquer tipo de comentário.

Vídeos

Daniela Mercury e João Bosco – De frente pro crime

Alcione e Elton Medeiros – Pressentimento

Nando Reis e Eramos Carlos – De noite na cama

Jair Rodrigues e Cláudia Leite – Deixa isso pra lá

Cidade do Samba – Parte I

29, dezembro, 2007 by

Na madrugada do dia 24/12, passou na Globo o DVD Cidade do Samba gravado no começo do mês de setembro, com grandes nomes do samba, MPB, rock, rap e axé. Isso mesmo que você ouviu, vários duos em comemoração aos supostos 90 anos oficiais do Samba.

Nem só de bundas e peitos de fora, o samba sobrevive, esse ritmo que obviamente tem origem africana é derivado de outros como maxixe, lundu e modinha. Se firmou no começo do século 20 no Rio de Janeiro, ganhando uma popularidade imensa entre a parte mais pobre da população, principalmente pelo fato de ser um ritmo um tanto quanto percussivo que não exige instrumentos mais elaborados.

Gerou dois outros ritmos consideráveis, a bossa-nova que influenciou toda a MPB dos anos 60 até os dias atuais, e o pagode, que costumo definir como a invasão emo no samba.

É interessante analisar o ritmo em si porque ele tem vários sub-gêneros que antes seriam no mínimo inusitados. A presença forte da percussão e do cavaquinho e o violão de 7 cordas, também nos leva a observação de que o choro também teve uma influência e tanto do samba.

Segundo o Wikipédia temos oito tipos de samba: comum, partido alto, pagode, neo-pagode, samba de breque, samba-canção, samba-exaltação, samba-enredo, samba-reggae, samba-rock. Como a intenção não é fazer uma análise do ritmo mas sim do DVD, vou me limitar a deixar esses sub-gêneros com esses nomes e não acrescentar mais nenhum à lista, no entanto, só pra constar, vale lembrar que reza a lenda a possibilidade de dividirmos em mais de quinze tipos.

O DVD foi lançado pelo selo Zeca PagoDiscos, que fez uma comemoração ao “samba que agoniza, mas não morre”

Duos e {Músicas}

Zeca Pagodinho e Martinho da Vila {Mulheres}- Sobre esses dois realmente não há o que falar, dois expoentes do samba. Zeca com o estilo “grogue” de cantar deixa seu timbre e modo de cantar inconfundíveis. Martinho da Vila interpretando a música de maneira espetacular. Um duo e tanto.

Gabriel, o pensador e Fundo de Quintal {Boca sem dente} – Queria primeiramente destacar a comicidade na letra da música, de forma resumida, podemos dizer que se trata da ascensão social de um casal onde a mulher não tinha dente e após “crescer” e adquirir uma dentadura e se tornar uma dondoca virou a chata do pedaço. As letras do samba são caracterizadas pelo reflexo do cotidiano que por vezes é realmente cômico – “Se você não gostar do vestido, eu volto pra loja e troco você“. Fundo de Quintal é um grupo e tanto de samba ou pagode como alguns gostam de rotular e que foi realmente feliz nessa música. O rap do Gabriel não ficou inserido no samba como o de D2, pelo contrário, o rap ficou bem caracterizado pela rima enquanto o samba rolava como a batida não eletrônica, mas com sua batida clássica, e o “power trio sambista clássico”: pandeiro, cavaco e cuíca. E não é que o coro cantado pelo duo saiu legal?

Lenine e Zélia Duncan {Bebete Vãobora} – Zélia, grande nome da MPB atual não pode negar a influência do samba no seu trabalho, com sua voz “forte” (aliás, no Brasil o que mais temos é a exaltação de mulheres com voz grave), faz um belo duo com Lenine, esse pernambucano que realmente faz história com suas composições e arranjos. Bem em palco, os dois não precisam fazer fama agora, mas se sairam muito bem.

Ivete Sangalo e Juan Luis Guerra {Não tenho lágrimas} – O que acontece quando se mistura uma brasileira baiana com um dominicano, sob a tenda do samba? Música popular latino americana, como costumam chamar músicas pop’s de cantores não muito conhecidos latinos é o estilo de Guerra, quando misturado com o axé de Ivete ficou bem casado. Um trecho em espanhol fez com que ouvíssemos o samba em uma língua não tão habituada com o batuque. Só ressalto também o timbre de voz de Ivete Sangalo, e dou ponto negativo para a interação do duo no palco, enquanto ela sambava ele simplesmente olhava para seu violão, alheio a tudo que estava acontecendo.

Velha Guarda da Portela, Monarco e Vanessa da Mata {Onde a dor não tem razão} – Velha Guarda da Portela e Monarco na realidade tem sua história confundida. O grupo foi formado através do cantor Paulinho da Viola pelos idos da década de 70. A música? Um samba-enredo bem arranjado de acordo com a “velha-escola” do samba. E apesar de alguns acúmulos de ódio que à mato-grossense Vanessa da Mata leva, sua participação foi realmente genial.

Sombrinha e Grupo Revelação {Fogo de saudade} – Sombrinha é um cantor e compositor do samba muito respeitado no meio e o Grupo Revelação é um grupo de pagode bem conhecido, onde está o inusitado nesse duo? Ora, mas todo duo tem de ser inusitado? Talvez a junção entre paulistas e cariocas. Apesar de nada diferente no samba, não posso negar que foi uma bela apresentação de dois artistas que sabem o que fazem, apesar de manter um certo preconceito contra essa nova escola do samba que costumam designar pagode, ou ainda, neo-pagode (blergh)

Marcelo D2 e Pitty {Edmundo – In the mood} – Provavelmente o melhor arranjo do DVD, o samba Edmundo cantado por uma rockeira e um rapper, fez com que esse arranjo cantado com a melodia do In the mood, ficasse bonito, interessante, e misturado de forma não frescurenta. Geralmente quando se mistura muito, algo tende a ficar desorganizado, seja o ritmo, a melodia ou até mesmo o tom da voz do cantor, nesse caso, tudo se encaixou perfeitamente. Só não me agrada a temática das rimas do D2, ele não cansa de falar seus jargões como “a procura da batida perfeita”, alguém avisa pra ele que não dá, a batida perfeita não existe. Outras coisas, como a apologia as drogas, já encheram, pronto, todo mundo sabe que ele fuma, não precisa ficar falando isso a cada 20 segundos. Tirando esses detalhes, considero um dos melhores arranjos do DVD.

Leci Brandão e Casuarina {Aquarela Brasileira} – Não é Aquarela do Brasil! Casuarina é um grupo do nomeado samba-choro, relativamente novo, formado em 2001, que traz um toque de choro no samba-enredo cantado por Leci Brandão. A advogada com inovação continua sendo um dos ícones do samba.

Roberto Silva e Roberta Sá {Falsa Baiana} – Síncope é sinônimo do nome de Roberto Silva, o arranjo dessa música não ficou somente influenciado pelo choro, mas bastante sincopado. Ao lado de Roberto sua xará, jovem e com influências de rock e mpb, fizeram com que o swing fizesse parte e também aparecesse nesse DVD.

Beth Carvalho e Diogo Nogueira {Deixa a vida me levar} – O encontro de gerações foi realmente marcante, Beth Carvalho, quase uma militante da bossa, apoiou diversos ramos da música brasileira, e não é diferente no samba. Diogo Nogueira, o compositor de 26 anos nasceu praticamente no samba. A junção dos dois cantando esse clássico do samba ficou, não somente bem interpretado mas bem arranjado com bandolins deixando o samba-enredo bem característico. Destaque para os backing vocals.

Gilberto Gil e Marjorie Estiano {Chiclete com banana} – Dois músicos bem conhecidos da grande mídia, um por ser realmente um grande compositor e atualmente estar no cenário político e outra por, bem, fazer parte da grande mídia. Marjorie Estiano é o tipo de nome que provavelmente ninguém nunca pensaria em colocar numa roda de samba para cantar clássicos, mas sua performance foi realmente muito boa. Ao lado de Gil, pôde-se observar claramente as influências dos dois principalmente em relação a bossa e ao jazz, ritmos cantados que caíram muito bem nas duas vozes. Claro que os dois ritmos estão presentes justamente pela presença deles nas letras, cita-se bebop e baião, mas nada melhor que um arranjo sincronizado com a letra. Samba-rock foi assim que auto-definiram essa faixa, apesar de estar mais para um samba-jazz mesmo.

Dudu Nobre e Chorão {Posso até me apaixonar} – Outra dupla difícil de se ver. Um pagodeiro ao lado de um rockeiro há tempos atrás seria inconcebível. Um samba-pagode com algumas pequenas inferências de rap, apesar de parecer estranho ficou bem casado. O vocalista do Charlie Brown Jr, cantou até o coro do samba. Mas, realmente o destaque vai para o pagodeiro que tem um timbre de voz característico do samba. No final da música, rolou até uma tentativa de beat box.

Vídeos

Alguns vídeos desses duos da primeira parte:

Lenine e Zélia Duncan – Bebete Vam’bora

Ivete Sangalo e Juan Luis Guerra – Não tenho lágrimas

Pitty e D2 – Edmundo (In the mood)

Gilberto Gil e Marjorie Estiano – Chiclete com Banana

Pequenos vídeos do selo podem ser encontrados no perfil zecapagodiscos

Albert Mangelsdorff

9, dezembro, 2007 by

O jazz era um ritmo mal visto na Alemanha nazista. Isso não impediu que em Frankfurt um garoto de 12 anos ouvisse às escondidas as rádios dos aliados, e se fosse considerado anos depois, por tocar o mesmo jazz “degenerado” para os nazistas, o melhor trombonista do mundo.

Falo de Albert Mangelsdorff. Instrumentista brilhante, teve a oportunidade de tocar com os melhores músicos de seu tempo. Nomes lendários tocaram ao seu lado músicas memoráveis. Entre estes nomes destaco Jaco Pastorius, baixista inclassificável, com o qual tocou no Trilogue Live!, no Berlin Jazz Days em 1976.

E o vídeo a seguir mostra o trombonista em ação em Now Jazz Ramwong (não reparem o cavanhaque do baterista).

Link para o vídeo

Mangelsdorff faleceu em 2005, aos 75 anos de idade.

Outras informações

Biografia com timeline (em alemão).

Consultas

Clube de JazzImprovisos ao Sul

Meme: Cinco Melhores Álbuns do Ano

4, dezembro, 2007 by

Continuando o meme iniciado pelo Renato do Musicólotra, seguem as indicações dos cinco melhores álbuns do ano:

Beastie Boys – The Mix Up

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Esse álbum totalmente instrumental do trio Ad-Rock, Mike D e MCA, vem com influências que marcaram os álbuns anteriores do grupo, ou seja, uma miscelânea muito bem feita.

Grooves, free-jazz, dub, música brasileira fazem parte das influências desse álbum que inclusive tem uma faixa com o nome “Suco de Tangerina” – diz a lenda que quando vieram ao Brasil não somente gostaram do suco da fruta como da pronúncia de tangerina.

Vale a pena conferir! Muito bem produzido, que além do trio tocando bateria (Mike D), guitarra (MCA) e baixo acústico (Ad-Rock), ainda traz nos sintetizadores e teclados Fender Rhodes e na percussão Ortiz.

O álbum é daqueles que servem para se ouvir por prazer, colocar como background, ou ainda numa festa para se dançar. Vale a pena conferir!

Site Oficial
MySpace

 

Joy Electric – Their Variables

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Ronnie Martin faz um som considerado eletrônico, mas que a gravadora Tooth and Nail Records rotula como sendo Indie.

O rótulo aqui é pouco cabível, esse EP traz elementos de industrial e european dance bem misturados, fazendo com o que o disco soe ao mesmo tempo melancólico e alegre como o nome da banda bem sugere: um regozijo elétrico

Site Oficial
MySpace

 

Coleção Clássicos do Jazz

A Folha de São Paulo, lançou essa coleção pra ninguém botar defeito. São 25 cd’s lançados semanalmente, com realmente os melhores do jazz.

Sendo assim, vou retirar minhas três outras indicações dessa coleção

 

Ella Fitzgerald

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Com sua voz considerada “infantil” conseguiu encantar platéias ao longo da vida, apesar de sofrer muita discriminação no começo da carreira por “não ter uma boa aparência”, segundo alguns produtores.

Participou de jam sessions com músicos conceituados do estilo swing, dentre eles Lester Young, Benny Carter e também com os beboppers Dizzy Gilespie e Charlie Parker.

Sua voz doce e interpretação inigualável fazem dela a representante máxima do “instrumento” voz, dentro do jazz.

 

Benny Goodman

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O clarinetista que não foge a história de grande parte dos jazzistas, nasceu em bairro pobre e logo se tornou um dos maiores bandleaders do estilo swing, inclusive levando o controverso título de “Rei do Swing”.

Quebrou protocolos tocando no templo da música erudita – que nos idos de 1940 tinha seus músicas em intensa “briga” – Carnegie Hall.

Ainda quebrando certos preconceitos musicais, seguiu carreira paralela de músico erudito com o jazz.

 

Miles Davis

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Sem sombra de dúvida um nome e tanto da música mundial. Esse trompetista que recebeu apelidos que levam sua fama tais como: Picasso do Jazz, Rei do Cool, dentre outros.

Não é a toa, o “inventor” do cool jazz também remodelou o hard bop e criou o estilo jazz modal.

O inovador Miles Davis não parou por aí no início dos anos 90, também introduziu em sua música, o R&B e o rap. É sem dúvida um dos maiores nomes da música mundial.

 

E para continuar o meme convido:

Tinariwen

28, novembro, 2007 by

Já ouviu falar no Mali? Não?

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É esse país africano sem fronteiras com o mar, um dos países mais pobres do mundo que teve colonização francesa como grande parte dessa parte da África.

No sul da Argélia, em 1979, surgiu uma banda que vem fazendo sucesso nas grandes megalópoles mundiais (Nova York, Paris, Tóquio); o nome do grupo é Tinariwen que em sua língua – tamashek – quer dizer “deserto”.

Integram o grupo doze homens que variam os instrumentos entre guitarras e percussões, fazendo um som que lembra rock anos 60 claro com a pitada de som tuaregue. Um exemplo (ou lenda) de perseverança da música no meio do deserto é a história de um guitarrista na época guerrilheiro que foi para a batalha com a guitarra e o rifle nas costas, levou doze tiros e não morreu.

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Atualmente a banda tem feito participações com Santana e Robert Plant do Led Zepellin. Tem dois cd’s gravados, sendo que o segundo é intitulado Aman Iman que significa Água é Vida.

 

 

 

 Vale a pena conferir os links:

 

Canal do YouTube – Tem um documentário sobre a história da banda e da música no Deserto

Tinariwen – Site Oficial (inglês)

MySpace – Quatro músicas para download

 

E pra verem os componentes dessa curiosa banda, vale a pena dar uma olhada na apresentação deles no Festival Folk da BBC:

 

Carmina Burana – Carl Orff

16, novembro, 2007 by

Essa cantata muito conhecida pelo público por conta de sua grande utilização em filmes ou em comerciais na TV, tem uma história curiosa. Carmina na realidade é o plural de Carmem, que em latim vulgar significa canções, já Burana vem por conta de onde as letras dessa obra-prima foram encontradas, num velho mosteiro chamado Benediktbeuren na Alemanha. Tais poemas eram do século XIII, ou seja, o alemão e várias línguas ainda não tinham se solidificado, sendo assim, os poemas estavam escrito numa espécie de mistura entre um alemão arcaico, francês, grego e latim.

Na época em que foram escritos a influência da música religiosa – principalmente o canto gregoriano – no Ocidente era muito forte. O que caracteriza esses poemas utilizados por Carl Orff nessa obra, é a fuga dos temas religiosos, são temas do cotidiano onde a parábola presente é a da roda da fortuna, onde o azar e a sorte estão presentes para o ser humano em todos os momentos de sua vida.

O coro forte e a marcação pulsante da percussão são características únicas dessa obra, que foi “feita” em 1937 por Carl Orff (1895-1982) e ainda teve mais duas cantatas inspiradas nos poemas considerados profanos: Catuli Carmina (1943) e Trionfi Dell’Afrodite (1952), que não alcançaram o mesmo sucesso que a primeira composição.

Carmina Burana é divida em “movimentos”, temos vinte e cinco deles, sendo que alguns desses conjuntos tem sub-títulos.

No vídeo a seguir podemos ver os movimentos vinte quatro e vinte e cinco, Ave Formosíssima e O Fortuna respectivamente, esse último com tema igual ao do primeiro movimento.

 

Seguem as letras:

24. Salve formosíssima

Salve, formosíssima,
Jóia preciosa,
Salve, orgulho das virgens,
Virgem gloriosa,
Salve, luz do mundo,
Salve, rosa do mundo
Blanchefleur e Helena,
Generosa Vênus!

25. Ó Fortuna

Ó Fortuna
és como a Lua
mutável,
sempre aumentas
e diminuis;
a detestável vida
ora escurece
e ora clareia
por brincadeira a mente;
miséria,
poder,
ela os funde como gelo.

Sorte monstruosa
e vazia,
tu – roda volúvel –
és má,
vã é a felicidade
sempre dissolúvel,
nebulosa
e velada
também a mim contagias;
agora por brincadeira
o dorso nu
entrego à tua perversidade.

A sorte na saúde
e virtude
agora me é contrária.

e tira
mantendo sempre escravizado.
nesta hora
sem demora
tange a corda vibrante;
porque a sorte
abate o forte,
chorais todos comigo!

Outro vídeo do sub-título In Taberna com os seus quatro movimentos: Estuans interius, Olim lacus coluerum, Ego sum Abbas e In taberna quando sumus

Também o movimento de número 22, Tempus est iocundum

 

Todas as letras dessa obra assim como um pouco mais de sua história podem ser encontradas aqui:

 

Victor Wooten

9, novembro, 2007 by

A evolução do baixo elétrico na década de 1970 o aproximou da guitarra elétrica em aspectos de construção e em técnicas de execução. Esse fato acabou causando o surgimento de baixistas que mais pareciam ter uma guitarra na mão. Chamados depreciativamente de “guitarristas frustrados”, esses músicos usam elementos típicos da guitarra elétrica, como pedais de distorção e solos rápidos.

Não é este o caso de Victor Wooten. Este é um dos baixistas que seja tocando slaps ou metralhando arpejos em alta velocidade sabe explorar a sonoridade de seu instrumento. Sua técnica apurada não descaracteriza o sentimento e o peso necessário para se extrair o melhor do seu baixo.

Vida musical

Wooten começou tocando com seus quatro irmãos na banda chamada Wooten Brothers, enquanto morava na Virgínia. Em 1988 passou a integrar o grupo Béla Fleck and the Flecktones (estes seriam assunto pra um post separado), que varia seu repertório entre jazz, fusion e bluegrass.

Em ação

Assistam o vídeo abaixo com uma boa apresentação de Wooten tocando ao vivo Amazing Grace.

Mais informações

Site oficial: http://www.victorwooten.com

Site Béla Fleck and the Flecktones: http://www.flecktones.com

Funk como le gusta

2, novembro, 2007 by

Antes de discrimarem o grupo, uma breve explicação sobre o que é o funk.

O ritmo Funk é um estilo que tem como principal representante James Brown, muito conhecido como o rei do soul. O ritmo bem característico – síncopes levadas por guitarras, um baixo denso e uma forte presença de metais e percussão – faz com que esse ritmo se torne bem dançante. Historicamente não há como negar a influência do jazz, R&B e soul.

O funk no fim dos anos 50, não era bem visto pois seu significado original estava relacionado ao odor das pessoas durante as relações sexuais, sendo assim, falar que alguém tocava o estilo funk era considerado inapropriado.

O ritmo teve um pouco de suas características alteradas com George Clinton na década de 70, influenciando nos anos 80 o rap e também cantores como Prince e Michael Jackson. No Brasil, podemos citar Tim Maia e Carlos Dafé como influenciados por tal estilo. Atualmente o ritmo está associado ao que costumamos chamar de funk carioca, batidas eletrônicas oriundas do rap é a principal influência dessa nova tendência.

Sendo assim, falemos sobre a banda. Funk como le gusta é um grupo composto por dez componentes:

O baterista e percussionista Kukistorlasky, que excursiona com Zeca Baleiro, DJ Marky e DJ Patife, dentre outros

O baterista e percussionista James Muller que já tocou com Jorge Benjor, Rick Martin, Sandy e Junior e DJ Patife

O baixista Sérgio Bartolo, produtor musical

O guitarrista Emerson Villan que fez trabalhos com Sandra de Sá, Adriana Calcanhoto e também produziu Titãs

O tecladista Juliano Beccari teve professores como: Nelson Panicali, Ciro Pereira e Moacir Santos

O saxofonista Kito Siqueira, produtor de trilhas sonoras para peças e TV, trabalhando, inclusive, durante alguns anos na MTV

O também saxofonista e flautista Hugo Hori, que já gravou com Mundo Livre S/A, Raimundos, Nação Zumbi, dentre outros

O trombonista Tiquinho que já tocou com Chico Science, Tijuana, Ultraje a Rigor, Gilberto Gil e outros

O trompetista Marcelo Cotarelli que já tocou em grandes festivais como Free Jazz Festival, Montreaux Jazz e muitos outros

O trompetista Reginaldo 16 que já excursionou com Alice Cooper e acompanhou Rick Martin e Alejandro Sans.

O ritmo como não poderia deixar de ser é dançante e muito bem harmonizado. As características do ritmo como: forte presença de metais e baixo “forte” são elementos constantes das composições do grupo, assim como vocais característicos.

No site oficial você pode ouvir 30 músicas do grupo, assim como assistir o vídeo de sua apresentação na TV Cultura

Uma parte do DVD:

Somos do funk

É isso aí. Ouçam, realmente vale a pena